Há alguns dias escrevemos e publicamos um texto especial abordando um caso de plágio na primeira edição do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2016 , cujo tema da proposta de redação da prova de produção de textos foi “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”.
O referido plágio foi feito por uma candidata que praticamente memorizou trechos de outras duas dissertações-argumentativas que obtiveram notas máximas nas edições dos anos de 2014 e 2015 do ENEM.
Neste caso, um dos fatores que mais nos chamou a atenção foi, além do caso como um todo, obviamente, o fato de os maiores trechos plagiados serem aqueles que se referem à competência número dois, mais especificamente no que se refere a aplicação de conceitos de diversas áreas do conhecimento.
Na análise que fizemos desta redação específica, estranhamos muito a alusão ao escritor brasileiro Machado de Assis, mais especificamente de uma de suas maiores obras, Memórias Póstumas de Brás Cubas. As pessoas que leram este livro sabem que nele há o desenvolvimento de vários temas sociais, históricos e filosóficos, os quais podemos trazer, inclusive, para nossas vidas, mas não há margem para o debate da intolerância religiosa.
Isto nos faz pensar que esse tipo de candidato ao ENEM pensa que basta citar um escritor, um historiador, um economista, um político, um biólogo, um linguista etc. ou qualquer obra de uma área distinta da do tema da proposta de redação para pontuar na segunda competência da grade de correção.
Os conceitos oriundos de diversas áreas do conhecimento devem ser aplicados na redação sim, mas dentro do recorte temático da proposta a fim de desenvolver o tema de maneira consistente. Ao citar qualquer coisa que não tenha nada a ver se cria contradições, incoerências internas e até externas e acaba fugindo da essência da prova de produção textual.
Ainda em relação à intolerância religiosa, poderia ter citado algum historiador e/ou filósofo que tenha trabalhado ou que trabalhe com este tema. Como por exemplo, podemos citar o professor Mário Sérgio Cortella que, inclusive, já teve uma vida monástica e hoje é filósofo e professor de Teologia. O candidato poderia também citar uma pessoa religiosa que seja destaque e que pregue a tolerância e o respeito religioso, como um líder, um monge etc.
Deste modo, a aplicação de conceitos de diferentes áreas de conhecimento deve ser feita com cuidado e de maneira planejada e não de qualquer jeito, apenas para se dizer que houve a citação de um conceito de um campo distinto do conhecimento. Os corretores não dão nota na competência número dois contando nomes de autores e de obras, por exemplo, mas analisando como essa aplicação funciona na dissertação-argumentativa, ou seja, se ela contribui para com uma redação autônoma e crítica.
Nesse sentido, o candidato deve mostrar ter um repertório sociocultural produtivo e, além disso, mostrar um bom uso deste repertório e não apenas “jogá-lo”, digamos assim, pois ao aplicar conceitos muito distantes do tema o candidato corre o risco de tangenciar e de até fugir do tema.
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11 de maio de 2017
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