Observemos com atenção a música “Clichê do clichê” de Gilberto Gil:
(…)Eu, Belmondo
Como um Pierrot, le fou
Só no cinema francês
Você, Bardot
Belo anúncio de shampoo
Só fica bem nas TVs
Melhor viver
Nosso papel bem normal
Que a vida nos reservou
Interpretar
Nosso bem e nosso mal
Sem texto e sem diretor
Chega de representar
O que nós não queremos ser
Não vamos nos transformar
Num casal clichê do clichê
Nela, o eu lírico sugere que o casal não se comporte como todo casal modelo de cinema ou TV, mas que sejam eles mesmos, ‘sem texto e sem diretor’, sem seguir modelos previamente estabelecidos. Resumindo: que eles sejam originais, autênticos, que não sejam clichês!
Mas… o que é um clichê? O Houaiss eletrônico informa que é:
1 – placa de metal, geralmente zinco, gravada foto mecanicamente em relevo, obtida por meio de estereotipia, galvanotipia ou fotogravura, destinada à impressão de imagens e textos em prensa tipográfica; fotótipo;
3 – frase frequentemente rebuscada que se banaliza por ser muito repetida, transformando-se em unidade linguística estereotipada, de fácil emprego pelo emissor e fácil compreensão pelo receptor; lugar-comum, chavão
O comportamento do casal, então, tem em comum com alguns textos as estruturas rebuscadas que, de tão repetidas, perdem o sentido. Esses são os clichês! E por que devemos evitá-los nas redações? Porque o Enem e outros exames esperam que os candidatos mostrem originalidade, autoria e autonomia na defesa dos pontos de vista. E quem recorre a frases que todo mundo usa… não é original.
São considerados clichês (ou chavões) as afirmações oriundas de:
- Senso comum: É o saber baseado em observações simplistas da realidade, sem comprovação científica, e, portanto, sem reflexão profunda. São ideias prontas, que circulam na sociedade como se fossem verdades incontestáveis e, com frequência, são a base de muitos preconceitos: toda loira é burra; paulistas são trabalhadores, cariocas são preguiçosos; todos os políticos são corruptos; árabes são terroristas (a lista é enorme, infelizmente…)
- Frases feitas: “A esperança é a última que morre” e a originalidade é a primeira, quando o candidato emprega esse tipo de construção no texto. “No mundo em que vivemos”, “nos dias de hoje”, “hoje em dia”, “no mundo globalizado”, “fechar com chave de ouro”, “por último, mas não menos importante”, entre outras, são sentenças que ficaram banalizadas e geralmente não acrescentam nada ao seu texto.
- Expressões ‘cristalizadas’/verdades absolutas: Não tem sempre as mesmas palavras, mas as ideias contidas são sempre as mesmas: “as pessoas estão cada vez menos humanas”, “a falta de amor entre os seres humanos é enorme”, “as pessoas precisam se conscientizar”, “é preciso pensar positivo”, “o meio ambiente precisa ser preservado” etc. Elas encobrem a dificuldade de refletir sobre a realidade, de pensar criticamente e de propor ideias novas, qualidades esperadas nos candidatos às universidades
É preciso ser original, mas sem ‘brisar’, como diriam meus alunos mais ‘descolados’. Não é para fazer malabarismos linguísticos, nem inventar modas, apenas é preciso pensar, ir além do senso comum, refletir sobre o tema proposto na redação. Tendo um amplo conhecimento de mundo e relacionando o tema com outras disciplinas, você será capaz de apresentar novos pontos de vista sobre um determinado assunto.
Para evitar o uso de clichês e fugir do senso comum, desligue o piloto automático. Planeje seu texto e fuja das ideias prontas “como o diabo foge da cruz”!
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