“Alugam-se casas”. Certamente a maioria dos que passaram pelo Ensino Fundamental já ouviu essa frase em sala de aula. É a que muitos professores usam para exemplificar o uso do pronome "se“ denominado de partícula apassivadora, ou pronome apassivador, que indica que o elemento paciente – o que sofre a ação verbal – é o sujeito do verbo, ou seja, “alugam-se casas” é o mesmo que “casas são alugadas”, por isso o verbo deve ficar no plural. É a regra básica de concordância verbal: o verbo concorda com o sujeito.
Posto isso, vejamos o que ocorre gramaticalmente:
O pronome ‘se’ será denominado de partícula apassivadora quando se unir a um verbo transitivo direto acompanhado de seu complemento. Verbo transitivo direto é aquele que pede um complemento sem preposição – o objeto direto; como modelo, usa-se o verbo “comprar”: “Quem compra, compra algo”. Todo verbo indicador de ação ou de fato que se encaixar nesse modelo – “Quem compra, compra algo” – é verbo transitivo direto, e o “algo” será o objeto direto.
Quando um verbo transitivo direto, com seu objeto direto, for acompanhado do pronome “se”, este será chamado de partícula apassivadora. O objeto direto, nesses casos, será transformado em sujeito do verbo, por isso este tem de concordar com aquele. Esse é o motivo de o verbo “alugar” ficar no plural na frase “alugam-se casas”: “alugar” é verbo transitivo direto, e “casas”, o objeto direto que se transformou em sujeito; o verbo concorda com o sujeito, por isso fica no plural. Veja este outro exemplo:
- Já não se encontram políticos como antigamente.
O verbo “encontrar” é transitivo direto, pois “Quem encontra, encontra algo ou alguém”; o “alguém” é o substantivo “políticos”, que está no plural. O pronome “se” é partícula apassivadora, então “políticos” se transforma em sujeito; o verbo, portanto, fica no plural.
Se, porém, houver preposição (de, a, em, por, para...) ligada ao verbo – seja exigida por ele ou por seu complemento –, o pronome “se” não será partícula apassivadora, mas sim pronome de indeterminação do sujeito, que fará o verbo ficar no singular. Isso ocorre porque o sujeito, na Língua Portuguesa, não pode ser iniciado por preposição alguma, portanto o complemento preposicionado não pode ser sujeito e o “se” não pode ser partícula apassivadora. Veja estes exemplos:
- Precisa-se de pessoas honestas.
O verbo “precisar” pede a preposição “de”, pois “Quem precisa, precisa de algo ou de alguém”. Como há a preposição, “pessoas honestas” não pode ser sujeito. O “se” indetermina o sujeito, e o verbo fica no singular. Ocorre, no entanto, que o verbo “precisar” também pode ser usado sem preposição alguma. Se não a usar, “pessoas honestas” passa a ser sujeito, o “se” passa a ser partícula apassivadora e o verbo passa a concordar com o sujeito ”Precisam-se pessoas honestas”.
- Ama-se a todos os irmãos.
O verbo “amar” não pede preposição alguma, pois “Quem ama, ama algo ou alguém”. É, então, verbo transitivo direto, mas o seu complemento pede optativamente a preposição “a”: sempre que um pronome indefinido funcionar como objeto direto, a preposição “a” será optativa, transformando o pronome em objeto direto preposicionado. Como há a preposição, “todos os irmãos” não pode ser sujeito. O “se” indetermina o sujeito e o verbo fica no singular. Como a preposição “a” diante de pronomes indefinidos é optativa, pode ser retirada. Se não a usar, “todos os irmãos” passa a ser sujeito, o “se” passa a ser partícula apassivadora e o verbo passa a concordar com o sujeito: ”Amam-se todos os irmãos”.
Outros dois casos de pronome de indeterminação do sujeito ocorrem quando o verbo indicar qualidade do sujeito – ser, estar, parecer, ficar, etc. e quando o verbo não exigir complemento algum. Por exemplo:
- Chora-se muito, quando se é adolescente.
O verbo “ser” indica qualidade do sujeito: “alguém é adolescente”; e o verbo “chorar” não exige complemento algum, pois “Quem chora, chora”.
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