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11 de julho de 2014

Texto - cultura

Além dos seres vivos e da matéria cósmica, existem, também, coisas 
culturais, muitíssimo mais complicadas. Chama-se cultura tudo o que é feito pelos 
homens, ou resulta do trabalho deles e de seus pensamentos. Por exemplo, uma 
cadeira está na cara que é cultural porque foi feita por alguém. Mesmo o 
banquinho mais vagabundo, que mal se põe em pé, é uma coisa cultural. É cultura, 
também, porque feita pelos homens, uma galinha. Sem a intervenção humana, que 
criou os bichos domésticos, as galinhas, as vacas, os porcos, os cabritos, as cabras, 
não existiriam. Só haveria animais selvagens.
A minhoca criada para produzir humo é cultural, eu compreendo. Mas a 
lombriga que você tem na barriga é apenas um ser biológico. Ou será, ela também, 
um ser cultural? Cultural não é, porque ninguém cria lombrigas. Elas é que se 
criam e se reproduzem nas suas tripas. 
Uma casa qualquer, ainda que material, é claramente um produto cultural, 
porque é feita pelos homens. A mesma coisa se pode dizer de um prato de sopa, de 
um picolé ou de um diário. Mas estas são coisas de cultura material, que se pode 
ver, medir, pesar. 
Há, também, para complicar, as coisas da cultura imaterial, impropriamente 
chamadas de espiritual - muitíssimo mais complicadas. A fala, por exemplo, que 
se revela quando a gente conversa, e que existe independentemente de qualquer 
boca falante, é criação cultural. Aliás, a mais importante. Sem a fala, os homens 
seriam uns macacos, porque não poderiam se entender uns com os outros, para 
acumular conhecimento e mudar o mundo como temos mudado. 
A fala está aí, onde existe gente, para qualquer um aprender. Aprende-se, 
geralmente, a da mãe. Se ela é uma índia, aprende-se a falar a fala dos índios, dos 
Xavantes, por exemplo. Se ela é uma carioca, professora, moradora da Tijuca, a 
gente aprende aquele português lá dos tijucanos. Mas, se você trocar a filhinha da 
índia pela filhinha da professora, e criar, bem ali na praça Saens Peña, ela vai 
crescer como uma menina qualquer, tijucana, dali mesmo. E vice-versa, o mesmo 
ocorre se a filha da professora for levada para a aldeia Xavante: ela vai crescer lá, 
como uma xavantinha perfeita - falando a língua dos Xavantes e xavanteando 
muito bem, sem nem saber que há tijucanos. 
Além da fala, temos as crenças, as artes, que são criações culturais, porque 
inventadas pelos homens e transmitidas uns aos outros através de gerações. Elas 
se tornam visíveis, se manifestam, através de criações artísticas, ou de ritos e 
práticas - o batizado, o casamento, a missa - em que a gente vê os conceitos e as 
ideias religiosas ou artísticas se realizarem. Essa separação de coisas cósmicas, 
coisas vivas, coisas culturais, ajuda a gente de alguma forma? Sei não. Se não 
ajuda, diverte. É melhor que decorar um dicionário, ou aprender datas. Você não 
acha?
Cultura 

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