Escreva sempre frases curtas, que não ultrapassem duas ou três linhas, mas também não caia no oposto, escrevendo frases curtas demais. Seu texto pode ficar cansativo.
Uma frase de boa extensão evita que você se perca. Seja objetivo. Quanto mais você se alonga, mais a frase ramifica-se em muitas outras sem chegar a lugar algum. Exemplo:
A crise de abastecimento de álcool não é apenas resultado da incompetência e irresponsabilidade das agências governamentais que deveriam tratar do assunto, pois ela também foi causada por um outro vício de origem que foi no primeiro caso os organismos do governo encarregados de gerir os destinos do Proálcool que foram pouco a pouco sendo apropriados pelos setores que eles deveriam controlar, se transformando em instrumentos de poder desses mesmos setores que através deles passaram a se apropriar de rendas que não lhes pertenciam.
Quando chegamos ao final da frase, não lembramos o que estava no seu início. O que fazer? Antes de tudo, ver quantas idéias existem e separá-las.
Uma possível redação para esse texto seria:
A crise de abastecimento de álcool não resulta apenas da incompetência e da irresponsabilidade do governo. Ela é também causada por certos vícios que rondam o poder. Os órgãos responsáveis pelo destino do Proálcool se eximem de controlá-lo com rigor. Disso resulta uma situação estranha: os órgãos do governo passam a ser dominados justamente pelos setores que deveriam controlar. Transformam-se assim em instrumentos de poder de usineiros que se apropriam do Erário.
Fragmentação
A fragmentação é um erro muito comum em textos produzidos por alunos. Nunca interrompa seu pensamento antes de pronomes relativos, gerúndios e conjunções subordinativas.
ERRADO:
O carro ficara estacionado no shopping. Onde tínhamos ido fazer compras.
O Detran tem aumentado sua receita. Multando carros sem nenhum critério.
Ele tem lutado para manter o status. Uma vez que perdeu quase toda a fortuna.
CERTO:
O carro ficara estacionado no shopping onde tínhamos ido fazer compras.
O Detran tem aumentado sua receita, multando carros sem nenhum critério.
Ele tem lutado para manter o status, uma vez que perdeu quase toda a fortuna.
A conjunção POIS
Não use POIS assim que começar um texto. Pois é uma conjunção explicativa ou conclusiva, e ninguém deve explicar ou concluir nada logo no primeiro parágrafo. As explicações só aparecem quando seu processo argumentativo está em andamento. Lembre-se de que, no primeiro parágrafo, deve-se apenas situar o problema.
Onde
Atenção para o emprego de onde. Só deve ser usado quando se referir a lugar.
O país onde nasci fica muito distante.
Nos demais casos, use em que:
São muito convincentes os argumentos em que você se baseia.
Não use onde para se referir a datas.
Ocorreu nos anos 70, onde houve uma verdadeira revolução de costumes. (Errado)
Melhor dizer:
Ocorreu nos anos 70, quando houve uma verdadeira revolução de costumes. (Certo)
O VOCABULÁRIO
Escreva com simplicidade. Não empregue palavras complicadas ou supostamente bonitas. Escrever bem não é escrever difícil. O vocabulário deve adequar-se ao tipo de texto que pretendemos redigir. No nosso caso, só trabalhamos com a linguagem padrão, aquela que a norma culta exige quando vamos tratar de algum problema de grande interesse para leitores de bom nível cultural. Dela deverão estar afastados erros gramaticais, ortográficos, termos chulos, gíria, que não condizem com a boa linguagem. Observe as inadequações neste exemplo:
Os grevistas refutam o aumento proposto pelo governo. Enquanto o líder da situação fazia na Câmara os prolegômenos dos novos índices, os trabalhadores faziam do lado de fora o maior auê, achando que o governo não estava com nada.
É preciso ter muito cuidado com as palavras. Nem sempre elas se substituem com precisão. Empregar refutar por rejeitar, prolegômenos por exposição não torna o texto melhor. Não só palavras “bonitas” prejudicam um texto, mas também a gíria (auê) e expressões coloquiais (não estava com nada).
O texto poderia ser escrito da seguinte forma:
Os grevistas rejeitaram o aumento proposto pelo governo. Enquanto o líder da situação fazia na Câmara a exposição dos novos índices, os trabalhadores faziam do lado de fora uma grande manifestação..
Adjetivos certos na medida certa
O emprego indiscriminado de adjetivos pode prejudicar as melhores idéias. Para que dizer um vendaval catastrófico destruiu Itu quando vendaval já traz implícita a idéia de catástrofe?
Outro mau uso do adjetivo ocorre quando empregado intempestivamente, como se o autor quisesse embelezar o texto.
Diante do mundo incomensurável, incógnito e desmedido que nos cerca, o homem se sente minúsculo, limitado, inepto, incapaz de compreender o menor movimento das coisas singulares, magnéticas e imprevisíveis com que se depara em seu cotidiano impregnado e assoberbado de interrogações.
Entendeu? Nem nós.
O adjetivo pode ser empregado, sim, mas quando traz uma informação necessária ao fato, à notícia.
O estresse, a fadiga crônica acompanhada de mãos geladas, insônia e irritabilidade atribuída em geral à correria da vida urbana, talvez só perca para o colesterol alto quando se trata de arranjar um culpado pelo surgimento de doenças.
Os adjetivos aí empregados não são supérfluos. Se forem retirados, vão fazer falta à informação, pois:
a) a fadiga, além de crônica, pode ser passageira;
b) geladas é imprescindível a mãos, por ser um sintoma de fadiga crônica;
c) vida precisa do qualificativo urbana para evitar a generalização.
Evite usar adjetivos que já se desgastaram com o uso como: calor escaldante, saudosa memória, longa jornada, doce lembrança, emérito goleador, grata surpresa, frio siberiano, inquietante silêncio, lauto banquete, último adeus, providências cabíveis, vibrante torcida.
Lugares-comuns e modismos
Evite palavras, frases, expressões ou construções vulgares. A renovação da linguagem deve ser uma preocupação constante de quem escreve. Não há boa idéia que sobreviva num texto cheio de lugares-comuns. Abandone: agradar a gregos e troianos; arrebentar a boca do balão; botar pra quebrar; chover no molhado; deitar e rolar; dar o branco, correr solto; dizer cobras e lagartos; estar em petição de miséria; estar com bola toda; estar na crista da onda; ficar literalmente arrasado; ir de vento em popa; passar em brancas nuvens; ser a tábua de salvação; segurar com unhas e dentes; ter um lugar ao sol.
A palavra mais simples
Entre duas palavras, escolha a mais simples. Por que dizer auscultar em vez de sondar? Obstância em vez de empecilho?
Siga sempre o conselho do grande escritor francês Paul Valéry: “Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta.” Evite também duas ou mais palavras quando uma é capaz de substituí-las. Use: o governador em vez de chefe do executivo; o presidente em vez de o chefe da nação.
Pleonasmos
Alguns pleonasmos passam despercebidos quando escrevemos. Veja os mais comuns e troque-os pela forma exata: a cada dia que passa (a cada dia); acabamentos finais (acabamentos); continua ainda (continua); elo de ligação (elo); encarar de frente (encarar); há doze anos atrás (há doze anos); justamente com (com); monopólio exclusivo (monopólio); repetir de novo (repetir).
PARTICULARIDADES LÉXICAS E GRAMATICAIS
Desde
Nunca escreva “desde de”.
Não o vejo desde 1980. (E não “desde de 1980”)
Junto a
“Junto a” significa “adido a”. “Ele é nosso representante junto à FIFA”.
Já esta frase não está correta: “Você tem de se explicar junto ao banco”.
O certo é abandonar a palavra “junto” e usar a preposição exigida pelo verbo: Você tem que se explicar ao banco.
. À medida que/na medida em que
Não confunda “à medida que” com “na medida em que”. A primeira locução dá idéia de proporção e a segunda de causa.
Você vai melhorar à medida que (à proporção que) for tomando esse remédio.
Vamos seguir o regulamento na medida em que (uma vez que) ele foi aprovado.
Face a/ frente a
Nunca use. Substitua por “diante de”, “em face de”, “ante”, “em vista de”, “perante”, “em frente de”. Inauguraram uma padaria em frente de nossa casa.
Acerca de/ a cerca de/ há cerca de
Acerca de é “sobre”: Não disse nada acerca do plano econômico que elaborou.
A cerca de é “aproximadamente”. Minha casa fica a cerca de cem metros da praia.
Há cerca de “faz aproximadamente”. Há cerca de dez anos que eles estudam esse assunto.
Há/a
Não troque “a” por “há” e vice-versa. Use “a” para exprimir idéia de FUTURO.
Daqui a cinco anos estarei formado. Minha escola fica a duzentos metros da casa.
Use “há” para tempo passado. Para saber se seu emprego está correto, substitua o verbo haver por fazer: Há (faz) oito anos que não o vejo.
Veja a diferença entre a tempo e há tempo.
Chegou a tempo de fazer as malas.
Ele está na Austrália há (faz) tempo.
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