Enem 2013
Escolas de melhor colocação no Enem concentram candidatos de maior renda
Divulgados pela primeira vez, dados socieconômicos dos estudantes revelam como o perfil socioeconômico ajuda a construir o ranking de desempenho das instituições. Entre as 107 melhor destacadas no Estado, 63% estão no nível mais alto da hierarquia
Atualizada em 27/12/2014 | 17h0127/12/2014 | 17h01
Um levantamento inédito do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revelou o que o senso comum já supunha: as escolas com melhor classificação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são aquelas onde estão matriculados os alunos mais ricos.
Os dados extraídos do questionário respondido pelos candidatos em 2013 foram divulgados pela primeira vez este ano. Eles continham perguntas quanto à posse de bens, renda e escolaridade dos pais. Dentre os 107 melhores colégios do Estado (que corresponde a 10%), 63% estão no nível muito alto (veja quadro abaixo), sendo que 90% são da rede privada.
Ao fazer um recorte apenas entre as 20 melhores estaduais gaúchas, nota-se que 45% foram classificadas com o nível socioeconômico alto, e 55%, médio alto.
Rodrigo Travitzki é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e chegou à conclusão em sua tese de que 75% do desempenho da escola no exame é explicado pela renda e 4% pela cor da pele e pela religião. A instituição por si só seria determinante para 21% do desempenho.
— O aluno mais pobre não está fadado a ir mal no Enem, mas uma escola com alunos mais pobres, por outro lado, dificilmente terá uma boa colocação no ranking — ponderou Travitzki.
O fator socioeconômico adquire uma dimensão mais ampla, indica o pesquisador, já que os estudantes com melhores condições financeiras estão em boas escolas, têm lugar adequado para estudo e não precisam trabalhar para completar o orçamento.
— Isso não quer dizer que os mais pobres sejam menos inteligentes. Eles tendem a ter menores notas nas provas, até porque foram menos treinados para isso — diz Travitzki.
Não é somente entre as escolas da rede privada que se percebe a influência da renda no desempenho no exame. Quando analisadas as médias das provas objetivas das escolas estaduais, é possível perceber que, conforme evoluem as faixas de renda, o desempenho também cresce de maneira proporcional.
O coordenador do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Etnicorracial do RS, José Antonio dos Santos da Silva, avalia que há uma diferença de tratamento dentro da rede pública de ensino. O que a pesquisa mostrou em números, Silva enxerga na prática:
— As escolas públicas que atendem os bairros mais pobres têm dificuldade de repassar o conhecimento. Até por isso, muitos jovens vão abandonando os estudos e nem chegam ao Ensino Médio.
OS CRITÉRIOS DE RENDA
O indicador socioeconômico das escolas foi definido a partir de um questionário respondido pelos alunos quanto a posso de bens materiais, renda familiar, escolaridade dos pais ou responsáveis.
O cálculo foi feito com base no que os alunos indicaram:
Muito baixo (Nível I)
- Televisão, uma geladeira, um telefone celular, até dois quartos e um banheiro
- Sem empregada doméstica
- Renda familiar de até 1 salário mínimo
- Pais ou responsáveis possuem ensino fundamental completo ou em andamento.
Baixo (Nível II)
- Videocassete ou DVD e um rádio.
- Sem empregada doméstica
- Renda familiar de até 1 salário mínimo
- Pais ou responsáveis possuem ensino fundamental completo ou em andamento.
Médio baixo (Nível III)
- Máquina de lavar roupas, computador e acesso à internet
- Sem empregada doméstica
- Renda familiar entre 1 e 1,5 salários mínimos
- Pai e mãe (ou responsáveis) possuem ensino fundamental completo ou em andamento.
Médio (Nível IV)
- Dois celulares, duas ou mais televisões, freezer, um ou mais telefones fixos e um carro
- Sem empregada doméstica
- Renda familiar mensal entre 1,5 e 2 ou entre 2 e 5 salários mínimos
- Pai e mãe (ou responsáveis) possuem ensino fundamental completo ou em andamento.
Médio alto (Nível V)
- Três quartos e dois banheiros, TV por assinatura e um aspirador de pó
- Sem empregada doméstica
- Renda familiar mensal entre 5 e 7 salários mínimos
- Pai e mãe (ou responsáveis) completaram o ensino médio.
Alto (Nível VI)
- Três quartos e três banheiros, dois carros
- Sem empregada doméstica
- Renda familiar acima de 7 salários mínimos
- Pai e mãe (ou responsáveis) completaram a faculdade e/ou podem ter concluído ou não um curso de pós-graduação.
Muito alto (Nível VII)
- Duas ou mais geladeiras e três ou mais televisões, três ou mais carros
- Contratam empregada mensalista ou diarista até duas vezes por semana
- Renda familiar acima de 7 salários mínimos
- Pai e mãe (ou responsáveis) completaram a faculdade e/ou podem ter concluído ou não um curso de pós-graduação.
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