Na última terça-feira, dia 11 de abril de 2017, o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) liberou para os participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) o acesso aos espelhos dos textos da prova de redação das duas edições do ano de 2016, já que devido às ocupações de várias escolas públicas por todo o país, houve uma segunda aplicação do exame.
No mesmo dia, o portal G1 divulgou algumas das setenta e sete redações que obtiveram a nota máxima da correção da redação do ENEM e, neste texto, iremos analisar um desses textos, cuja autoria é de Larissa Cristine Ferreira, de 20 anos.
Podemos perceber que se trata de uma dissertação-argumentativa com a estrutura composicional adequada e clássica: divisão em quatro parágrafos, sendo o primeiro o parágrafo introdutório, o segundo e o terceiro os de desenvolvimento e o quarto e último o da conclusão. Além disso, é um texto escrito da maneira correta em relação ao estilo: linguagem impessoal, objetiva e formal, seguindo a norma culta da Língua Portuguesa escrita e que atende ao tema da proposta de redação da primeira edição do ENEM 2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil.
Já na primeira oração do texto, a candidata relaciona a intolerância e o preconceito religioso com a frase final do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, um dos maiores clássicos da literatura brasileira, de Machado de Assis: “não tive filhos; não deixei para ninguém o legado da nossa miséria”. Como avaliadora, não penso que a autora estabeleceu tal relação com consistência; não acredito que esta passagem literária seja a melhor opção para dialogar com o tema da proposta, mas, mesmo assim, avaliadora não deve gostar do texto e sim corrigi-lo dentro da grande de correção e, pensando neste ponto, a candidata pontuou na segunda competência, quando relaciona o tema com outras disicplinas, assim como fez ao citar Aristóteles e Durkein, este por sua vez, muito melhor inserido do que Machado de Assis.
Por meio de adjetivos como “perversas”, Larissa coloca sua opinião, repudiando a intolerância religiosa e argumentando que a isonomia constitucional não é, na prática, realizada, já que pessoas são excluídas por causa da sua religião. A autora também cita “minorias religiosas”, mas não explica ao leitor quais religiões e/ou crenças são consideradas minorias em um país cuja população é, em sua maioria, cristã, dividida em, basicamente, duas grandes frentes: católicos e evangélicos.
No terceiro parágrafo, a candidata refere-se, por meio do discurso indireto, à coletânea de textos motivadores, quando escreve que, segundo pesquisas, as religiões afro-brasileiras são as principais vítimas de preconceito, mas não cita nenhum exemplo. No mesmo trecho, Larissa explica que grande parte deste problema advém da criação de crianças por famílias preconceituosas.
Na conclusão, a autora cita três propostas de intervenção social, cada uma dirigida a uma instância da sociedade. Ao Governo Federal, caberia a criação de delegacias especializadas em crimes de ódio, especialmente no que concerne a intolerância religiosa; às escolas ficaria a realização de palestras e a sociedade deve se mobilizar contra este tipo de discriminação, principalmente nas redes sociais.
Este texto, portanto, nos mostra que uma dissertação-argumentativa clássica e simples pode alcançar a nota máxima no ENEM.
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13 de abril de 2017
REDAÇÃO NOTA MIL DO ENEM 2016
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