Redação de LAIANE DA SILVA CARVALHO
Escola pública de Valença – BA
Mesmo com a vigência da Lei Maria da Penha, com a criminalização do feminicídio na última década, o aumento percentual do número de mulheres vítimas de homicídio no Brasil persiste. Tipificada pela violência física, moral, psicológica ou sexual, a violação dos direitos femininos tem suas raízes em construções sociais e culturais, incorporadas como legítimas, que precisam ser desfeitas, pois, do contrário, o ideal de indistinção no gozo dos direitos fundamentais do cidadão não se consolidará.A crença na subalternidade femina é construída socialmente. A filósofa Simone de Beauvoir corrobora isso ao afirmar que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Os dizeres de Beauvoir revelam como a associação da figura feminina a determinados papéis não é condicionada por características biológicas, mas por pré-determinações sociais. Seguindo essa linha de pensamento, é usual , por exemplo, que mulheres que exerçam profissões tradicionalmente associadas a homens, como a de motorista, sofram preconceito no ambiente de trabalho e sejam violentadas psicologicamente.Além disso, a continuidade de práticas violentas contra a mulher é favorecida pelo que o pensador Pierre Bourdieu definiu como violência simbólica. Nesse tipo de violência, a sociedade passa a aceitar como natural as imposições de um segmento social hegemônico, neste caso, o gênero masculino, causando a legitimação da violação de direitos e/ou da desigualdade. Nesse contexto, urge a tomada de medidas que visem mitigar a crença de que as mulheres são inferiores. Para isso, cabe à sociedade civil organizada, o terceiro setor, a realização de palestras que instruam acerca da igualdade entre os gêneros. Ao poder público, cabe instituir a obrigatoriedade de participação masculina em fóruns, palestras e seminários que discorram acerca da importância do respeito às mulheres.Procedendo-se assim, casos como o da francesa Olympe de Gouges, guilhotinada na Revolução Francesa por exigir direitos femininos, ficarão apenas como o símbolo de um passado em que os Direitos Humanos não eram para todos.É priori que se busquem soluções, que não sejam paliativas, porém concretas, reafirmando os direitos fundamentais da mulher.
Laiane, estudante de uma escola pública do estado da Bahia, inicia seu texto afirmando que apesar da criação da lei Maria da Penha e da criminalização do feminicídio (assassinato pela motivo de a vítima ser uma mulher), o percentual de homicídios de mulheres no Brasil persiste, além da violência contra a mulher de um modo geral, tipificada pela violência física, verbal, sexual e psicológica. Sem ao menos terminar a sua introdução, a candidata sintetizou toda a coletânea de textos motivadores da proposta de redação do Enem 2015, já que os infográficos apresentados abordavam os índices da violência contra a mulher em cada uma de suas designações e os números relativos a lei Maria da Penha.
Em seguida, Laiane constrói sua tese, afirmando que a violação dos direitos das mulheres, pautada em por construções sociais e culturais, deve acabar, pois, ao contrário, o pleno aproveitamento dos direitos fundamentais do cidadão não será possível, ou seja, ela coloca as mulheres brasileiras como cidadãs, parte da sociedade.
Ao longo de todo o texto, a candidata mostra-se conhecedora da Filosofia, pois cita a filósofa Simone de Beauvoir – e a sua frase utilizada em uma questão do caderno de questões de Humanidades – e o pensador Pierre Bourdieu, além de expressar que consegue, e o faz muito bem – relacionar tais autoridades e o tema com fatos históricos, como na conclusão quando retoma o assassinato por guilhotina de Olympe de Gouges, francesa que lutava, na Revolução Francesa, pelos direitos femininos.
No primeiro parágrafo do desenvolvimento, Laiane explica o que Simone de Beauvoir quis dizer ao afirmar que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”: não há tanta importância o sexo biológico e sim as construções sociais, históricas e culturais, o que alguns fundamentalistas não conseguem entender (ou fingem não entender) em relação às questões ligadas à identidade de gênero de mulheres e de homens, diga-se de passagem.
Como estratégia argumentativa, a candidata dá como exemplo o preconceito sofrido por mulheres que exercem profissões tidas masculinas, como motorista, e lembra da violência psicológica sofrida por estas mulheres.
No segundo parágrafo do desenvolvimento, Laiane explica os motivos pelos quais a violência contra a mulher ainda persiste no Brasil, invocando o conceito de “violência simbólica” de Pierre Bourdieu: há uma aceitação dessa violência, o que podemos relacionar à cultura do estupro tão discutida atualmente no país. Neste contexto, a candidata elabora sua proposta de intervenção social, convocando a sociedade organizada e o terceiro setor a realizarem palestras que orientem a população em relação à igualdade de gênero. E, ao poder público, caberia instituir a obrigatoridade da participação dos homens em fóruns sobre os direitos das mulheres.
A nossa análise recaiu mais sobre o conteúdo da dissertação-argumentativa da Laiane – a quem parabenizamos!- e a análise da Cartilha do Candidato do Enem 2016 aborda mais questões técnicas, como o cumprimento das cinco competências. Como podemos ver, o domínio da norma culta da língua é excelente, a candidata escreveu uma dissertação-argumentativa dentro da estrutura clássica do gênero e mostrou argumentos consistentes, baseados em conhecimento de Filosofia, História e Sociologia, fundamentando-os em exemplos de anos atrás e atuais e elaborou uma proposta de intervenção social viável, verossímil e detalhada.
Além disso, trata-se de uma redação coesa e coerente, com o uso adequado de um leque variado de conectivos – conjunções e locuções conjuntivas – que estruturam muito bem a paragrafação do texto.
Até mais!
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